Maternidade solo e mercado de trabalho: estudos apontam desafios em Sergipe e no Brasil

Com recortes de gênero e raça, os dados revelam crescimento de lares chefiados por mães solo

Foto: William Fortunato/Pexels

Sergipe está entre os estados que compõem a amostra de um estudo revelando que quase metade das empreendedoras negras são mães solo. A pesquisa foi publicada pelo Laboratório de Gênero e Empreendedorismo do Instituto Rede Mulher Empreendedora no início de maio e, com um recorte de gênero e raça, lança um olhar sobre os desafios inerentes à maternidade e às mulheres no mercado de trabalho. 

Das 175 participantes negras que empreendem ou já empreenderam, 73% têm filhos e, destas, 48,7% são mães solo. Entre as principais dificuldades encontradas, está o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dessas mulheres. Os dados integram o estudo, realizado entre os dias 14 e 18 de outubro de 2024.

“No caso das mulheres negras, somam-se outras dificuldades às já conhecidas e enfrentadas no empreendedorismo feminino. A sobreposição de gênero e raça torna o empreender ainda mais desafiador, uma vez que o preconceito e a discriminação se configuram em mais barreiras a serem transpostas. Ainda assim, para elas, a sobrecarga do dia a dia é o elemento que causa mais impacto ao desenvolvimento de seus negócios. São responsáveis por múltiplas tarefas que, provavelmente, causam desgaste físico e mental”, concluiu o Instituto RME. 

As análises corroboram com a pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre os anos de 2012 e 2022. Em uma década, o quantitativo de lares chefiados por mães solo subiu 17,8%. Os números passaram de 9,6 milhões para 11,3 milhões. Entre as mães solo autodeclaradas negras, o estudo destaca ainda uma ascensão de 5,4 milhões para 6,9 milhões, no período.

Com base nos dados, a pesquisadora da área de Economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia – FGV IBRE, Janaína Feijó, refletiu sobre os “desafios adicionais” das mães solo que querem adentrar no mercado. Entre os exemplos citados, está a ausência de uma rede de apoio para conciliar maternidade, estudo e trabalho. “O solo não se refere apenas a ausência de um cônjuge, mas sim ao fato de todas as responsabilidades recaírem unicamente sobre a mãe. A maternidade impõe uma série de desafios para as mulheres e, no contexto das mães solo, esses desafios se tornam maiores”, observou Feijó à época. 

O levantamento da FGV também indicou uma alta proporção dessas mulheres com baixo nível educacional. Cerca de 54,3% tinham, no máximo, ensino fundamental completo. Das autodeclaradas negras, apenas 8,9% tinham acesso ao ensino superior. Já as mães solo brancas e amarelas apresentaram um índice de 21,4%.

Políticas Públicas em Sergipe 

A nível estadual, a pesquisa revelou a superação de Sergipe frente aos demais estados ao apresentar a maior proporção de lares liderados por mães solo (19,9%). Amapá (18,6%) e o Rio Grande do Norte (18%) aparecem em seguida. No comparativo, Santa Catarina (10,6%), Mato Grosso (11,8%) e Rio Grande do Sul (11,8%) registraram as menores proporções, conforme a FGV. 

Em abril de 2023, o Governo de Sergipe, intermediado pela Secretaria de Estado da Assistência Social, Inclusão e Cidadania (Seasic), sancionou a lei que instituiu o programa CMais Mãe Solo. De acordo com a Seasic, a iniciativa visa promover segurança econômica e alimentar, além de reduzir desigualdades de gênero e de oportunidades para as mães solo sem rede de apoio e para seus filhos. 

Entre as condições de acesso ao programa para essas mulheres, está a inscrição no Cadastro Único, ser beneficiária do Programa CMais Ser Criança, residir no estado, possuir dois filhos ou mais (com idade de até três anos) e estar em situação de vulnerabilidade social. 

Com informações da pesquisa “Empreendedoras Negras” e análise “Mães solo no mercado de trabalho”

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Jhennifer Laruska

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